Sega e Nintendo mudaram a história dos videogames com uma guerra de consoles que se tornou lendária na quarta geração. Por isso, a quinta geração de consoles trouxe mais empresas para a disputa e mudaria novamente o mercado.
A quinta geração é onde estão os consoles de 32-bit. O console de 32-bit mais famoso é o Playstation, da Sony, que se tornou um gigante do mercado. Outro deles é o Saturn, da Sega. Alguns irão lembrar do 3DO. Esses são os mais famosos, mas nenhum deles foi o primeiro console de 32-bit da história.
Ainda em 1993, uma grande empresa japonesa criou um console baseado em um computador para competir com as gigantes daquele setor. Mais de 30 anos depois, esse console foi esquecido.
Antes do PlayStation e do Saturn, existiu um console 32-bit que chegou antes de todos eles. Estou falando do FM Towns Marty—o primeiro console 32-bit do mundo! Vamos dar uma olhada mais de perto nesse pioneiro esquecido e descobrir por que ele merece um lugar no hall da fama dos games.
Como surgiu o FM Towns Marty

Comecemos pelo FM Towns, um computador lançado pela Fujitsu em 1989. O nome é uma composição da sigla FM, Fujitsu Micro, com Towns, em homenagem a Charles Townes, que ganhou o prêmio Nobel de física em 1964.
Lançado em 20 de fevereiro de 1993 pela Fujitsu, o FM Towns Marty era uma versão em console do computador FM Towns. O computador era famoso por ter ótimas versões dos jogos de arcade, algo que era uma grande atração para a época.
O nome Marty seria uma referência ao personagem Marty Mcfly, de “De volta para o futuro”, embora isso não tenha sido confirmado.
O Marty era equipado com um processador AMD 386SX de 16 MHz e podia exibir até 32.768 cores na tela — um salto enorme em comparação com os consoles 16-bit da época.
Ele também vinha com um drive de CD-ROM, uma tecnologia ainda nova no início dos anos 90. Isso permitia jogos com áudio de alta qualidade, vídeos em full motion e muito mais espaço de armazenamento do que os cartuchos – uma história que já ouvimos no Sega CD.
O controle do FM Towns Marty tinha um defeito: só tinha três botões, o que já era muito pouco até mesmo para os consoles de 16-bit.
O FM Towns Marty também tinha entrada para disquete, o que o torna único. Isso o permitia rodar toda a biblioteca de jogos para o computador FM Towns, exceto aqueles que precisavam ser instalados ou necessitavam de mais memória, algo que o console não era capaz de oferecer.
Outra curiosidade divertida do FM Towns Marty é que ele tinha entrada para microfone e fone para ser usado como karaokê, talvez a características que o faça mais japonês.
Polêmica dos 16-bit ou 32-bit

O processador do FM Towns Marty, da linha 386, tem um barramento de 16-bit, o que levou muita gente a dizer que ele não tinha 32-bit e que o primeiro console com essa capacidade seria o 3DO.
É um argumento que vemos também em relação ao Jaguar, que sempre alegou ter 64-bit, mas tem uma arquitetura com dois processadores com instruções de 32-bits.
Vieram outros consoles na geração, como o Amiga CD32, que usava no seu marketing a ideia que era o primeiro console 32 bits, meses antes do 3DO. Se formos pensar nos Estados Unidos, isso está até certo.
No mundo, porém, o FM Towns Marty foi o primeiro a chegar ao mercado.
Os Jogos

O FM Towns Marty tinha uma biblioteca pequena, mas poderosa. Muitos de seus títulos eram ports de jogos de arcade e PC, mas eles frequentemente tinham gráficos e som melhores do que suas versões em outros sistemas.
Por exemplo, Darius II—um shoot-‘em-up horizontal—era um banquete visual e sonoro, com cores vibrantes e uma trilha sonora incrível. E tem também o Street Fighter II, que aproveitou ao máximo o poder do Marty para entregar animações suaves e visuais nítidos.
Splatterhouse é um bom exemplo. O jogo ganhou uma excelente versão no Marty. Outros jogos famosos que ganharam versão para o FM Towns Marty foram Truxton II, Raiden, Puyo Puyo, After Burner I, II e III, Lemmings 2 e Turbo Out Run.
O console até ganhou uma versão de Street Fighter II, o Super Street Fighter II: The New Challengers, em 1994. Quando foi lançada, era uma das melhores versões disponíveis. Na verdade, o jogo era para o FM Towns, que era o grande foco no lançamento.
Mas o Marty também tinha seus títulos exclusivos. Jogos como The Portopia Serial Murder Case—um jogo de mistério—mostravam o potencial da tecnologia de CD-ROM com dublagem e narrativa cinemática. E não podemos esquecer da reputação do Marty por hospedar vários jogos adultos, os famosos Hentai, que se tornaram uma marca desse console.
Um dos problemas do FM Towns Marty era justamente a falta de jogos exclusivos para o hardware lançado. A retrocompatibilidade era ótima na teoria, mas na prática trodas as desenvolvedoras lançavam o jogo pensando no FM Towns, não na versão consolizada, que era mais potente. Isso significa que não existem jogos exclusivos do FM Towns Marty.
Destinado a fracassar

Embora tivesse boas configurações, o FM Towns tinha defeitos que o fizeram ser destinado ao fracasso. A começar pelo básico: ele era caro. No lançamento, o Marty custava cerca de 98.000 ienes (aproximadamente $900 dólares na época), um preço muito alto para a maioria dos gamers.
Além disso, o console enfrentou concorrência pesada do Mega Drive e do Super Nintendo, que já tinham bibliotecas enormes de jogos e bases de fãs fiéis. Mais do que isso: tinham o apoio de desenvolvedoras, que continuaram lançando jogos para os consoles de 16-bits.
A Fujitsu lançaria ainda o Car Marty, um dispositivo que era um FM Towns Marty portátil para ser instalado em carros, com direito a um sistema de GPS. Havia a opção com ou sem tela e o preço era, como esperado, bem alto: 800 dólares. Assim como o console tradicional, foi um fracasso comercial.
Em um movimento de desespero, a Fujitsu lançou o FM Towns Marty 2, com uma cor mais escura. Apesar do nome indicar uma sequência do console, era exatamente o mesmo hardware, mas com um preço menor. (66 mil ienes, ou 670 dólares). Não funcionou.
Quando o PlayStation e o Sega Saturn chegaram em 1994, o Marty foi rapidamente ofuscado. As boas configurações ficaram para trás, sem ter capacidade de gráficos em 3D. Esses novos consoles tinham marketing melhor, mais suporte de terceiros e uma variedade maior de jogos.
O FM Towns Marty, assim, se tornou um console bem obscuro e pouco conhecido.
Legado e Valor para Colecionadores

Apesar do fracasso comercial, o FM Towns Marty foi um pioneiro. Trouxe a arquitetura de PC para um console de mesa, algo que se tornaria padrão da indústria muitos anos depois, com Playstation e Xbox. O uso de CD para jogos era uma boa tentativa também, embora seu uso tenha se limitado a algo similar ao que vimos no Sega CD.
Hoje, o FM Towns Marty é desejado por colecionadores por sua raridade. Como só foi lançado no Japão, ele não é exatamente fácil de achar e nem é barato. Como não tem jogos exclusivos, o seu valor está na raridade do próprio console, embora tenha uma boa biblioteca de jogos graças à retrocompatibilidade com o computador FM Towns.
Mesmo sem ter sido um sucesso, o FM Towns Marty terá para sempre a coroa de ser o primeiro console de 32 bits da história.