Quando Tomb Raider surgiu em 1996, Lara Croft não apenas redefiniu os jogos de aventura, mas se tornou um ícone cultural. Duas décadas depois, enquanto celebramos o retorno dos clássicos através de remasters, é crucial olhar para o que solidificou o legado da personagem para a era moderna: a “Trilogia Survivor”.
Iniciada em 2013 pela Crystal Dynamics, essa série não foi apenas um reboot; foi uma reimaginação fundamental. Ela pegou a exploradora destemida que conhecíamos e nos mostrou sua origem, focando em uma Lara Croft mais sombria, adulta e, acima de tudo, humana.
Composta por Tomb Raider (2013), Rise of the Tomb Raider (2015) e Shadow of the Tomb Raider (2018), esta trilogia representa o que há de melhor na franquia.
O nascimento de uma sobrevivente (Tomb Raider 2013)
O primeiro jogo da trilogia estabelece o tom. A trama nos joga na ilha ficcional de Yamatai, na costa do Japão, um lugar cercado por mistério, um culto perigoso e a organização paramilitar conhecida como Trindade. Este é um jogo de origem focado em desconstruir Lara: ela não é uma caçadora de tesouros, mas uma sobrevivente.
A jogabilidade reflete essa transformação. O combate é visceral, e embora diversas armas estejam disponíveis, o arco se destaca como a ferramenta mais divertida e útil, incentivando uma abordagem de furtividade.
Graficamente, o jogo impressiona até hoje, mais de uma década depois. No entanto, seu ponto mais alto é a ação cinematográfica. O jogo cria sequências espetaculares que exigem reações rápidas, colocando o jogador no centro de um verdadeiro filme de sobrevivência. É o uso do famoso Quick Time Event (QTE), criado por Shenmua, em 1999.
A escalada da exploradora (Rise of the Tomb Raider)
Lançado em 2015, Rise expande a fórmula em todas as direções. Para o público brasileiro, o jogo marcou um ponto de virada: foi o primeiro da série a receber uma localização completa, com uma performance espetacular de Fernanda Bulara como Lara Croft.
A narrativa abandona a ilha e leva Lara à Sibéria, em busca da cidade oculta de Kitej e de respostas ligadas à pesquisa de seu pai. A ambientação gelada, que mistura o sobrenatural com ecos da história da União Soviética, serve como um pano de fundo deslumbrante.
O combate foi refinado, permitindo a criação de dispositivos explosivos improvisados, e a exploração tornou-se mais recompensadora. Mais importante, o jogo aprofunda o desenvolvimento da personagem, mostrando uma Lara que lida com o estresse pós-traumático do primeiro jogo enquanto se transforma na exploradora implacável que conhecemos.
A sombra da aventureira (Shadow of the Tomb Raider)
O capítulo final, de 2018, troca a neve da Sibéria pela densa e opressora selva amazônica. A trama, que começa no México e leva Lara ao Peru em busca da cidade perdida de Paititi, gira em torno das consequências de suas ações e da tentativa de impedir um apocalipse Maia.
Este é o título mais focado em furtividade. Lara agora usa lama para se camuflar e emprega táticas de guerrilha, muitas vezes enfrentando inimigos em combate corpo a corpo. A exploração vertical foi aprimorada com novas ferramentas de escalada e o uso do rapel.
Shadow é, sem dúvida, o jogo mais sombrio da trilogia, forçando Lara a encarar dilemas morais complexos. As tumbas e quebra-cabeças opcionais são os mais desafiadores de toda a série, e é aqui que ela finalmente completa sua transformação.
O legado que define uma geração
Jogados em sequência, os três títulos formam um arco narrativo coeso e espetacular. É impossível não notar a influência de Uncharted, mas essa é uma via de mão dupla. Uncharted só existe porque Tomb Raider criou o molde nos anos 90; a Trilogia Survivor, por sua vez, soube absorver com maestria as inovações que a Naughty Dog trouxe para a ação cinematográfica.
O ponto fraco da trilogia, ao menos para os fãs mais fervorosos, é que as tumbas, que oferecem puzzles elaborados e desafiadores, são opcionais. O jogador que se habitou com os jogos clássicos gostaria de ver mais desse tipo de desafio, de preferência integrado à história, e não como opcionais.
A Trilogia Survivor modernizou Lara Croft, oferecendo gráficos incríveis, combate divertido e uma exploração densa. São jogos que, embora relativamente curtos (cerca de 20 horas cada), entregam uma experiência completa. Eles provam que Lara Croft não é apenas uma relíquia do passado, mas uma das maiores e mais resilientes protagonistas da história dos videogames.













