Shigeru Miyamoto raramente dá entrevistas definitivas. O lendário criador da Nintendo é mestre em falar sobre filosofia de design, mas quando se trata de produtos futuros, suas respostas são, na melhor das hipóteses, evasivas. No entanto, em uma recente conversa com o GameSpot, Miyamoto deixou escapar pistas valiosas sobre os dois caminhos futuros da sua criação mais famosa: o cinema e os jogos.
Embora a manchete mais chamativa tenha sido a menção a Super Mario Galaxy como uma possibilidade para o cinema, a declaração mais importante foi sobre o futuro dos jogos. Miyamoto essencialmente confirmou que o sucesso estrondoso de Super Mario Bros. Wonder não foi um retorno nostálgico, mas a consolidação de uma nova estratégia: o Mario 2D agora é um pilar de inovação tão importante quanto o 3D.
O futuro de Mario nos cinemas (e a vaga promessa de ‘Galaxy’)
Após o sucesso astronômico de Super Mario Bros. O Filme, a pergunta sobre uma sequência é inevitável. Quando questionado especificamente sobre uma adaptação de Super Mario Galaxy (2007), Miyamoto foi vago, mas positivo: “É uma pergunta difícil… [Galaxy] tem muito conteúdo… Vai ser divertido.”
A menção, mesmo que breve, faz todo o sentido. O primeiro filme, produzido pela Illumination, focou em estabelecer o Reino Cogumelo, a relação de Mario e Luigi e a iconografia clássica de Super Mario Bros. e Super Mario World.
Galaxy, por outro lado, é a escolha narrativa mais lógica para uma sequência. O jogo introduziu Rosalina, uma das personagens com o lore mais profundo da franquia, e expandiu o universo de Mario para uma escala cósmica e cinematográfica. A estrutura do jogo, com seus planetoides, gravidade variável e temas de família e perda (no livro de histórias de Rosalina), oferece material muito mais rico para um roteiro do que um simples resgate da princesa.
Mais importante: o futuro dos jogos
A pista sobre o filme foi interessante, mas a verdadeira análise de Miyamoto veio ao discutir o futuro dos jogos de Mario. Ele reiterou a filosofia da Nintendo de sempre buscar o próximo Mario, mas destacou a importância de manter a acessibilidade e o núcleo da franquia.
A revelação crucial foi como ele posicionou Super Mario Bros. Wonder (2023). Miyamoto explicou que o sucesso do jogo veio da liberdade criativa. A equipe responsável pôde experimentar com o formato 2D sem a pressão de estar fazendo o prato principal da franquia — um fardo que, desde 1996, sempre coube aos títulos 3D.
Isso é uma mudança de paradigma. Por anos, especialmente durante a era “New Super Mario Bros.” (2006-2012), os jogos 2D pareciam uma obrigação contratual: produtos competentes, lucrativos e divertidos, mas que viviam à sombra da inovação de Galaxy ou Odyssey. Eram o feijão com arroz; o Mario 3D era o banquete.
‘Wonder’ liberta o Mario 3D
Wonder quebrou essa percepção. Ele não foi apenas um jogo de plataforma 2D; foi um dos títulos mais criativos, bizarros e visualmente impressionantes que a Nintendo produziu em anos. As Flores Fenomenais (Wonder Flowers), as Insígnias e o design de mundo provaram que o 2D não é um gênero “retro”, mas um formato com potencial ilimitado.
Ao validar Wonder como um pilar de inovação, Miyamoto confirma uma estratégia dupla que beneficia toda a franquia. O Mario 2D, agora revitalizado, pode satisfazer a enorme demanda por jogabilidade clássica, acessível e cooperativa.
Isso, por sua vez, tira a pressão do time de Mario 3D (o mesmo de Odyssey). Eles não precisam mais criar um jogo que agrade a todos — desde o jogador casual que só quer pular até o hardcore que busca inovação. Com o 2D cuidando da base do público, o próximo Mario 3D pode ser ainda mais experimental. Ele pode ser o próximo Super Mario 64 ou o próximo Odyssey, um título que não apenas define o personagem, mas define o próprio hardware em que será lançado (provavelmente o sucessor do Switch).
O que esperar
A entrevista de Miyamoto, quando lida nas entrelinhas, é animadora. Uma sequência cinematográfica baseada em Galaxy parece provável, mas isso é apenas a expansão de um negócio bem-sucedido.
A verdadeira notícia é para os jogadores: a Nintendo finalmente redefiniu sua maior franquia. O futuro de Mario não é mais um jogo 3D principal e um 2D nostálgico. O futuro é uma plataforma de dois pés, onde Wonder provou que a criatividade 2D é tão vital quanto a exploração 3D.















